Espaços Culturais 

Arte, urbanismo e periferia: conheça artistas que subvertem os espaços no Brasil

Lucas Dalt Morero
Conheça espaços e artistas que dão a cara e cores do Brasil à arte de rua em diferentes paredes e espaços.
Obras de Tamayo, Maramgoni e Arlim Graff
A arte no Brasil tomou diversos espaços que vão para além dos quadros e paredes dos museus. Por muitos anos e ainda hoje, a cultura e arte da periferia foram excluídas dos holofotes desses espaços hegemônicos.

Porém, a criatividade e a arte não estão presas ao que é vigente, elas formam um movimento vivo que se cria em novas formas e espaços. No Brasil, alguns movimentos artísticos aos poucos foram ganhando visibilidade por se imporem em locais visíveis a todos durante seus dias, ou seja, nos prédios, postes e paredes.

O Grafite e o Pixo são duas dessas formas artísticas que ganharam força, principalmente na comunidade periférica. O documentário “Luz, Câmera, Pichação" demonstra muito bem as raízes de um desses movimentos artísticos no Rio de Janeiro e em São Paulo. 
foto antiga pinacoteca
Outra forma de expressão urbana que ficou popularizada, principalmente como forma de embate político e ideológico foram os lambes. Atualmente, são utilizados também para fins comerciais, mas tiveram papel central como forma de propagar arte crítica em contextos como a ditadura militar.

Para que você conheça iniciativas, espaços e artistas urbanos, a Pixel Show selecionou alguns profissionais que promovem a arte de periferia no Brasil e também fora dela. 

Favela Galeria

A Favela Galeria é um projeto com mais de 300 obras gravadas nas paredes, portões e postes de São Mateus, Zona Leste da cidade de São Paulo. Esse acervo surgiu como ideia do Grupo OPNI (Objetos Pixadores Não Identificados), em 2009.

Além do projeto artístico, o grupo mantém outras atividades voltadas para a comunidade, como a Favela Galeria TV, São Mateus em Movimento, Om Vegan Favela e a Fundamental Produções.
Passarela Pinacoteca
Com isso, além de destacar a arte periférica nas paredes de São Mateus, são realizadas atividades em prol da cidadania, cultura, saúde e lazer. Assim, mantém-se viva a territorialidade e pertencimento local.

Marcelino Melo

Natural de Alagoas e morando na cidade de São Paulo, Marcelino Melo, vulgo Nenê, é um artista multimídia. Reconhecido pelo seu trabalho audiovisual, que nomeia sua página como menino do drone, recentemente lançou um novo projeto de destaque.

O acervo Quebradinha reúne mini esculturas, feitas com material reciclado, que retratam a realidade, rotina e cultura das periferias brasileiras. Como diz o próprio perfil do projeto: “Quebradinha é sobre memória, afetividade e gente!”
Passarela Pinacoteca
Através das esculturas também é possível enxergar como a arquitetura periférica se criou e instituiu em diversos locais do Brasil. Assim, Marcelino representa a cultura brasileira, se destacando em revistas e exposições.

Por fim, através de sua arte é possível sentir os ambientes e afetos pessoais que os rodeiam. Sua arte não é asséptica e neutra, levando a uma imersão em um mundo em miniatura que representa a imensidão de sua história e realidade.

Museu Aberto de Arte Urbana

Localizado na zona norte de São Paulo, o Museu Aberto de Arte Urbana (MAAU) é composto por 33 pilastras no trajeto da linha azul de metrô. É possível visualizar todas as obras a pé ou de carro pela Avenida Cruzeiro do Sul.
Passarela Pinacoteca
O projeto foi idealizado por Binho Ribeiro e Chivitz, dois artistas que foram levados à delegacia enquanto grafitavam essas mesmas pilastras. Assim, o MAAU permite a criação das obras, assim como sua preservação, sem que os artistas sejam denunciados ou considerados infratores por deixarem suas marcas no cinza de São Paulo.

O projeto também questiona a política higienista que mantém a cidade sem vida e cor, que exclui as representações como grafite e pixo do contexto da arte. O MAAU é uma prova de que a resistência à imposição de força do Estado pode gerar resultados benéficos para a expressão artística periférica.

Ayô

A artista plástica e grafiteira Ayô é um grande nome da arte brasileira, que vem também discutir o lugar da mulher no grafite e nas artes. Além de artista, também é educadora na área, designer e artesã.

Suas obras misturam diferentes técnicas como pintura, colagem, desenho, bordado, entre outras. Recheada de cores, causa uma epifania e sinestesia em quem visualiza, trazendo diferentes interpretações e sentidos em uma só obra.
Passarela Pinacoteca
Além disso, é perceptível a predominância de corpos femininos e elementos da cultura negra em suas expressões. E não há um único espaço que prenda suas obras, que vão das paredes, aos panos, papéis, madeira, bonecas e muito mais.

Mikael Guedes

Nascido em Ceilândia, Brasília, Mikael Guedes, conhecido como Omik nas ruas, é um grafiteiro de destaque no cenário brasileiro. A arte está presente em sua vida desde a infância, mas o grafite foi que mudou sua vida, levando-o a mudar de cidade para trabalhar em uma galeria. 

Seu grafite é marcado por cores e caricaturas, com formas geométricas que formam murais com símbolos culturais do local onde está instalado. Atualmente, sua obra marca diferentes paredes e painéis no Brasil e também em outros países, como na Alemanha.
Passarela Pinacoteca
Defende que o grafite pode ser um instrumento social, que além de mudar a paisagem, também muda vidas, assim como a sua. 

Criminalização da arte de rua

No Brasil, existem diversos artistas de renome na arte de rua, principalmente no grafite, como Os Gêmeos, Eduardo Kobra e o Alemão. No exterior, principalmente, eles possuem grande destaque pelas obras únicas que podem fazer em grandes prédios e estabelecimentos.

Porém, no Brasil, o Grafite e o Pixo, principalmente, são criminalizados, podendo ser denunciados e levar à reclusão dos artistas. São caracterizados como ato de vandalismo ao patrimônio público e, muitas das vezes, apagados das paredes com tintas opacas.
A visão popular e senso comum sobre esse tipo de arte está inundada pela percepção higienista de que uma cidade bonita é padronizada. Não há espaço para o colorido, para o afeto, para a mudança dos espaços.

Além disso, o espaço artístico fica recluso aos museus e galerias, que muitas das vezes são visitadas por públicos nichados. Com isso, a arte de rua fica cada vez mais segregada de qualquer espaço no Brasil.
Ainda vive, porém, como ato de resistência. Mas vale a pena se questionar, por que no Brasil essas expressões são tão desvalorizadas enquanto no exterior o efeito é o contrário? Com o tempo, talvez, possamos enxergar essas expressões com o afeto que os artistas colocam em seus trabalhos.
Curtiu essa matéria? Então acesse nosso blog e se mantenha atualizado com noticias e conteúdos sobre arte e cultura!